Eu queria simpatizar com o PEC mas não consigo, depois de me confrontar com a frieza do quadro da pg. 6, onde são apresentadas as facturas que ele implica para 2011, 2012 e 2013.
A maior factura até nem me parece mal. As privatizações constituem a grande medida para a contenção imediata da dívida pública (impacto de 1,4% do PIB em 2010) e não tenho problemas ideológicos com elas. Até saúdo, por outro lado, que se aposte em limitar o endividamento do sector empresarial do Estado. Mas tenho muitas reservas à inclusão no lote das empresas a privatizar de serviços cuja privatização já deu desastres noutros países, como os correios na Alemanha ou os transportes ferroviários no Reino Unido. Contudo, concederia neste ponto sem esforço excessivo.
A redução de benefícios fiscais e a introdução de taxas sobre as mais-valias até merecem a minha simpatia: estima-se que aumentem a receita em o,4% do PIB e faço parte dos que apostam mais na qualidade dos serviços públicos do que no reembolso das despesas privadas, embora não se excepcione nestas medidas a factura dos medicamentos, em que a despesa privada não é uma opção, mas uma regra do funcionamento do sistema.
Mas a terceira medida com mais impacto financeiro já em 2011 deixou-me mudo de espanto (ou como disse o Pedro Adão e Silva, em estado de choque). Esta factura vai directamente para os mais pobres.
O governo do PS, em que votei, vai introduzir um tecto de despesa nas prestações sociais não contributivas, o que quer dizer que quando ele estiver esgotado, quem receber, por exemplo, o subsídio social de desemprego ou o complemento solidário para idosos, apesar de ter direito à prestação já não a receberá. Naturalmente, é de esperar que faça tudo para não chegar aí, pelo que há-de cortar na abrangência das prestações porque não se espera que os problemas sociais se comecem a diluir por milagre em 2010.
No corte das prestações sociais, o RSI tem direito a uma evidenciação especial e que lá está apenas para que o governo do PS diga – qual Portas – que os malandros dos beneficiários do RSI também vão pagar.
De facto, a despesa com os mais pobres vai diminuir em 200 milhões entre 2011 e 2013, dos quais 30 milhões serão nno RSI. Os outros 170 milhões porque não se evidencia onde são? Estigma é estigma e quem escolheu este símbolo no PEC fez uma escolha clara sobre como quer tratá-lo.
Que a factura dos pobres seja tão pesada em plena crise económica e em situação de risco de crise social não consigo aceitar, nem por nada. Repare-se que em 2011 o Estado vai buscar mais aos pobres do que ao adiamento das infraestruturas e que vai, afinal e para minha surpresa, buscar a estas prestações mais do que à famosa nova taxa de IRS de 45%.
O quadro que derrotou a minha simpatia pelo PEC, apresentado de forma a ver-se quais as facturas mais pesadas que ele passa e a quem, aqui fica (com um clique, amplia). Mas, querendo, vá à terrível pg. 6 e confronte-se com o original.
7 comentários:
Pois é, assim Teixeira dos Santos e o PS de Sócrates mostram ao serviço de quem estão, o grande capital. Aos bancos nunca nada faltou. E o Estado (nós) que adiantou o dinheiro, vai agora pagá-lo com juros a essa mesma banca. Já sabíamos que os governantes o são apenas transitoriamente e que nunca se esquecem dos seus verdadeiros senhores.
Fiz link, Paulo :)
Um abraço.
"Hoje sinto-me particularmente feliz por não ter sido candidato a deputado nesta legislatura."
E se os deputados fossem eleitos em círculos uninominais, também estaria a dizer o mesmo?
Ou estaria triste por não poder estar lá a defender o seu compromisso com os seus eleitores?
Que saudades de governantes que sabem distinguir o que são cidadãos de direitos e cidadãos contribuintes. Que saudades de governantes que sabem ser fieis a essa distinção. Este PEC é de facto uma afronta em toda a linha pq penaliza os mais pobres e é contrário à família nas suas diferentes funções sociais. PAra quando o seu regresso à acção política visível?
Os verdadeiros socialistas têm de se revoltar contra isto. envergonha o partido e compromete-o seriamente para o futuro. e não falo, sequer, do País, claramente o elo mais fraco desta escandaleira.
Una voce poco fa! Se há mais, que apareçam. :-)
Eu também queria simpatizar com esteb PEC, mas rejeito com a toda a convicção e com a maior indignação!
Mas apenas estar contra é pouco. É urgente um grito de revolta e de solidariedade para com os mais prejudicados com este PEC
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