31.3.10

A libertação de mais um refém das FARC tem um dedo de Lula

Em nenhum conflito os papeis de falcão ou de pomba são atributos exclusivos de uma das partes. As FARC e o governo da Colômbia não são excepção e a guerrilha está agora a conseguir demonstrar uma vontade de paz que o governo não consegue acompanhar.
Bem pode este clamar que se trata de acto de propaganda e ameaçar a televisão colombiana que seguiu em directo a libertação do refém,  que o que sobra é que agora as FARC recebem na selva uma senadora do Partido Liberal para libertar reféns e não para ser raptada ela própria.
Algo mudou para que isto seja possível. Um dos factores de mudança é uma vitória governamental, que conseguiu debilitar muito o seu oponente no plano militar. Mas não bastaria. O que estamos a assistir exige uma diplomacia habilidosa, persistente e forte.
E nesse campo há que sublinhar a vontade das FARC, a oferta humanitária da Cruz Vermelha e o papel da senadora. Mas há que interrogarmo-nos como se conseguiu criar a janela de segurança adequada à libertação do sargento Moncayo, durante o tempo necessário, que até teve que ser estendido por causa das condições climatéricas. E, na resposta a esta questão, não parece nada acidental que tenham sido helicópteros brasileiros a realizar a operação de resgate.
A chave para a possibilidade de pacificação deste conflito não está nem do lado do alinhamento dos EUA com o governo colombiano nem nos laços promíscuos do Chavismo com as FARC, mas na afirmação progressiva do Brasil como potência regional e na sua capacidade de se manter como elo entre os autodesignados bolivarianos, o que remanesce da extrema-esquerda militarizada e as oligarquias que persistem no poder em vários países.
Esta obra da presidência de Lula é já património diplomático do Brasil e quem lhe suceda terá que ser capaz de estar à altura de o continuar.

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