Em nenhum conflito os papeis de falcão ou de pomba são atributos exclusivos de uma das partes. As FARC e o governo da Colômbia não são excepção e a guerrilha está agora a conseguir demonstrar uma vontade de paz que o governo não consegue acompanhar.
Bem pode este clamar que se trata de acto de propaganda e ameaçar a televisão colombiana que seguiu em directo a libertação do refém, que o que sobra é que agora as FARC recebem na selva uma senadora do Partido Liberal para libertar reféns e não para ser raptada ela própria.
Algo mudou para que isto seja possível. Um dos factores de mudança é uma vitória governamental, que conseguiu debilitar muito o seu oponente no plano militar. Mas não bastaria. O que estamos a assistir exige uma diplomacia habilidosa, persistente e forte.
E nesse campo há que sublinhar a vontade das FARC, a oferta humanitária da Cruz Vermelha e o papel da senadora. Mas há que interrogarmo-nos como se conseguiu criar a janela de segurança adequada à libertação do sargento Moncayo, durante o tempo necessário, que até teve que ser estendido por causa das condições climatéricas. E, na resposta a esta questão, não parece nada acidental que tenham sido helicópteros brasileiros a realizar a operação de resgate.
A chave para a possibilidade de pacificação deste conflito não está nem do lado do alinhamento dos EUA com o governo colombiano nem nos laços promíscuos do Chavismo com as FARC, mas na afirmação progressiva do Brasil como potência regional e na sua capacidade de se manter como elo entre os autodesignados bolivarianos, o que remanesce da extrema-esquerda militarizada e as oligarquias que persistem no poder em vários países.
Esta obra da presidência de Lula é já património diplomático do Brasil e quem lhe suceda terá que ser capaz de estar à altura de o continuar.
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