25.3.10

Reflicta sobre as diferenças

Para conseguir que a reforma do sistema de saúde passasse no Congresso, Obama teve que fazer um acordo "na 23ª hora" com um grupo de representantes. Para fazer com que a resolução sobre o PEC seja aprovada hoje, o Governo teve que negociar até ao último minuto com o PSD. O que há de diferente entre uma e outra negociação e um e outro desfechos?
Sabe-se o que Obama queria e o que teve que ceder para o conseguir. Para que não houvesse dúvidas sobre o que se pretendia e o que se cedeu, a ordem executiva da reforma foi assinada num verdadeiro live show enquanto a que resultou da cedência foi assinada à porta fechada.
Julga-se saber que o PSD não influenciou nenhuma medida do PEC e que se abstem na resolução apresentada ao Parlamento porque garantiu que ao viabilizar o Programa não estavam a apoiar as suas medidas.
Continuo a pensar que o mundo não está de molde a que Portugal possa ter um governo mendigo na Assembleia da República e que era melhor que os portugueses soubessem com transparência que no que o governo faz há o que se deve à sua vontade e o que se deve à necessidade de se entender com o PSD, no respeito pelos resultados eleitorais das últimas legislativas. O PS e o PSD escolheram fazer diferente, originando estas cenas entre o cómico e o melodramático de acordos de regime que não vinculam as partes, como se estivessemos apenas perante um jogo de espelhos e não perante decisões que mexem com a vida de milhões de pessoas.
Por mim, acho que a democracia ganha mais em que se saiba o que num consenso resulta da posição de cada uma das partes envolvidas do que se crie a ideia de que o interesse nacional é uma questão de fachada.

Adenda. A isto tudo há que juntar que Manuela Ferreira Leite recusou deixar aos seus companheiros de partido que lhe querem suceder na liderança a herança de pôr em causa o Governo a custo zero para eles, como julgo que quereriam quer Passos Coelho quer, sobretudo, Paulo Rangel.

1 comentário:

Joana Lopes disse...

Tem toda a razão, Paulo, mas nem sei se o espectáculo chega a ser cómico ou melodramático - é triste e gera indiferença do eleitor / espectador, o que é grave.