8.9.10

Greve na PSP: o Governo, o direito e o bom senso.

Um dos sindicatos da PSP decidiu entregar pré-aviso de greve para, nem mais nem menos que os dias da Cimeira da NATO e da Cimeira EUA-Europa. A TSF noticia que o Governo entende que os polícias nem sequer têm direito à greve e informa que até Garcia Pereira, que não é propriamente um juslaboralista favorável a restricções a direito tão fundamental dos trabalhadores recorda que o conceito de serviços mínimos numa greve de polícias significa que todas as actividades que se prendam com a salvaguarda de Direitos Fundamentais dos cidadãos e do assegurar das funções da ordem pública não poderão deixar de ser prestadas.
Por tudo isto, o SINAPOL deu um tiro no pé que prejudica mais a sua reivindicação de direito à greve do que mil discursos securitários dos adversários a que tal direito exista na polícia. Se uma direcção de um sindicato de polícias não percebe que os dias de uma cimeira que reunirá dezenas de chefes de Estado e de uma aliança militar implicam redobradissimos esforços para a garantia das funções de ordem pública, então revela que não está à altura de reivindicar o próprio direito à greve.
Não é preciso ser polícia para perceber que tais acontecimentos pressupõem operações especiais e mobilização vultuosa de recursos para garantir a segurança pública, nem é preciso ser membro do governo para perceber que em dia de risco de manifestações e contra-manifestações, de atentados à segurança de chefes de Estado e coisas assim não se pode deixar que uma greve de polícias seja factor de perturbação da ordem pública.
O bom senso mandaria que este sindicato testasse a sua ideia de direito à greve noutra altura. Caso contrário, terá que se aplicar com mão férrea ou a proibição do direito à greve ou uma lista muitissimo máxima de serviços mínimos.
O SINAPOL não é nem pode deixar-se confundir com um movimento alterglobalista que tenta boicotar acontecimentos que as autoridades legítimas dos seus países decidem convocar, mesmo que algum dos seus dirigentes possa ter simpatia ou antipatia por este ou aquele acontecimento ou iniciativa.
Sou um defensor de que todas as restrições aos direitos sindicais e em particular ao direito à greve  têm que ser muitissimo bem justificadas, mas este caso parece-me tão óbvio como o de um cirurgião que queira declarar-se em greve na hora de fazer uma intervenção cirúrgica ultra-urgente cuja não realização implique a morte do paciente.
Se dirigentes sindicais com tanta falta de bom-senso conseguirem mobilizar a classe, o sindicalismo não irá longe. Por isso, vale também a pena ouvir o que dizem de semelhante disparate os outros sindicatos de polícias e esperar que os associados do sindicato tenham o bom-senso que faltou a quem entregou este pré-aviso.

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