8.9.10

De passagem pelo banco, o Luis Costa recomenda

Acabei de ler o livro da Leonor Figueiredo SITA VALLES Revolucionária, Comunista até à Morte (1951-1977). Devorei-o num ápice e, reconheço-o, mexeu muito comigo.
Conheci a Sita aí por 72/73 era eu dirigente (eleito Vice-presidente da Direcção, mas impedido, como todos os membros da lista, de tomar posse pelo Ministério de Veiga Simão) da única associação de estudantes de Lisboa (ISCSPU) "controlada" à data pela UEC/PCP na academia de Lisboa, como de resto se evidencia no livro, quando a Sita emerge no movimento associativo de Medicina e, depois, em todo o movimento estudantil de Lisboa. Eu era delegado à RIA e tinhamos contactos espúrios.
Para cuidar da vidinha e pagar a renda de casa, eu tinha um biscate no Ministério do Ultramar, arranjado pelo meu conterrâneo Luis Magueijo, que era lá contínuo, que começou por ser a contagem manual das fichas do recenseamento da Guiné e depois foi evoluindo para organizar uma biblioteca especializada em publicações da FAO e para apoiar a equipa que produzia regularmente um boletim de conjuntura, de circulação reservada, com a informação real sobre a economia das "províncias ultramarinas". Obviamente que, pelos canais adequados, chegava sempre uma cópia aos meus contactos estudantis ligados aos movimentos de libertação.
Um belo dia, aí por Setembro de 73, por altura das "eleições", a Sita foi ter comigo ao Ministério do Ultramar. Chega ao edifício do Restelo, onde hoje funciona o Ministério da Defesa, anuncia-se na recepção, toma o elevador até ao 4º andar, avança pelo longo corredor até ao gabinete que partilhava com dois colegas funcionários, na Direcção-Geral de Economia. Exuberante como sempre, saia curta como normalmente, sobressaia na lapela do casaco o emblema da CDE, aquele a que chamavamos na gíria o "pé de galinha". Obviamente que fiquei à rasca e transmiti-lhe subtilmente o incómodo. Mas pronto, eu também não era dos mais prudentes na pureza (ingenuidade?) dos 20 anos e ali à volta a minha conotação com o "contra" já era sobremaneira conhecida.
Esta Sita timorata que eu conheci está impecavel/implacavelmente retratada no livro.
Depois do 25 de Abril perdi-lhe praticamente o rasto. Ela era da UEC e a minha ligação era com o Partido. Embora continuasse a estudar e pertencesse aos orgãos sociais da associação de estudantes, a minha ligação partidária era em Algés onde morava e sobretudo enquanto membro do organismo de direcção da função pública. Soube mais tarde que tinha rumado a Angola. Depois vieram as notícias do esmagamento da "Revolta Activa" e do seu bárbaro assassínato. Ainda me recordo das discussões feitas em reunião de célula quando questionávamos o Partido sobre o que se tinha passado, bem como a pouco inteligível posição do "grande colectivo" sobre os acontecimentos.
O livro abre pistas, ajuda a enquadrar os factos, permite compreender o posicionamento dos actores, regista silêncios, mas obviamente que muito há ainda por esclarecer, até porque o exercício do direito do contraditório revela-se impossível, porque os "revoltosos" foram todos aniquilados.
Em síntese: leitura recomendada.
Boas leituras.
Luis Costa

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