20.9.12

Portugal em marcha à ré: disparem as críticas ao cérebro e não ao braço direito, ao Governo e não à troika

Não é necessário partilhar a visão do mundo de Eugénio Rosa para lhe agradecer o trabalho de compilação e análise de dados e ler com os nossos próprios olhos a informação que disponibiliza com sistematicidade e rigor. No seu último estudo, os dados sobre importações e exportações apontam para um caminho - ainda antes de sabermos o que aconteceu em 2011 - de queda signficativa das importações ligadas ao investimento e de prosseguimento da orientação para baixo (em termos de incorporação tecnológica) no nosso perfil de exportações.
A nossa crise não é só de contracção do mercado, é de redução do ritmo de preparação para o futuro enquanto continuamos a sorver a bolha de oxigénio da orientação exportadora dos sectores menos avançados da economia que buscam alternativas à falência. E, imagine-se porquê, crescemos a nossa venda ao exterior de metais preciosos (lá se vão os anéis e as arrecadas das avós).
Se não invertermos a tendência, a queda do nosso PIB potencial é inevitável e a degradação estrutural da situação económica do país só pode ser evitada por um improvável milagre induzido do exterior.
A isto, podem chamar empobrecimento ou perda de rumo, mas o que mais temo é que seja a desnatagem dos segmentos mais modernos da nossa economia. Isto é que estejamos perante numa crise que atrasa; sem nenhum dos potenciais efeitos benéficos das crises que restruturam. Este tipo de processo gerou profundas crises sociais em todos os países que aconteceu, da América Latina dos anos oitenta ao Leste Europeu do fim do comunismo. E, neste processo, aumentar a competitividade pela desvalorização fiscal brutal,  é mais um passo no caminho para trás, nem sequer é uma paragem para reorganizar forças e ganhar fôlego.
Acresce que este caminho - ideia que me separa da esquerda antitroikista - só parcialmente é induzido pela troika. Sim, há constrangimentos fortes da tecnocracia que nos passa cheques e examina periodicamente. Mas o caminho para o desequilíbrio é mesmo conduzido pela falta de imaginação ou pelas convicções profundas dos lunáticos que nos governam em nome dos dois partidos em quem os portugueses livremente votaram e que de peito feito sempre prometeram ir além da troika. Nisso, os portugueses não se podem dizer enganados. É certo que o PSD e o CDS foram alem da troika em marcha à ré, mas que podia esperar-se de diferente dos seus radicais ímpetos "reformistas"?
Daqui deriva que, para mim, os que estão a orientar o descontentamento popular para virar as armas contra a troika em vez de o fazerem contra o Governo - como fazem os meus amigos que reduziram o Congresso das Alternativas a uma assembleia geral dos Ladrões de Bicicletas - é má pontaria: atira ao braço direito e não ao cérebro do problema.

3 comentários:

z. disse...

ter-lhe-ão fechado a porta à participação, onde poderia ser "atirador" ao cérebro?
ou sofremos do mesmo enviesamento?

Paulo Pedroso disse...

Caro Paulo Pedroso:
Como não o consegui fazer no blog, aí vai o meu comentário:
Concordo com a chamada de atenção para o caminho de atraso que estes "lunáticos" (mas ferozmente determinados na sua ideologia neoliberal)  estão a empurrar o país e que não é apenas a troika. Agora, essa de chamar ao Congresso das Alternativas "assembleia geral dos Ladrões de Bicicletas" acho um exagero e uma precipitação. Acha que a Comissão Organizadora o justifica? E os textos que alguns vão publicando (eu sou um deles) são só de "Ladrões de Bicicletas"? Claro, que são dos mais activos, mas não impedem outros.Desculpe, mas não ajuda nada processos de intenções.
Abraço camarada do
Cláudio Teixeira

Paulo Pedroso disse...

O comentário acima foi recebido no mail, enviado pelo meu amigo e camarada Cláudio Teixeira.