A súbita descida do rating da dívida pública portuguesa pela S&P relançou o debate em torno do PEC. Assim, as questões que aqui estão colocadas aos leitores há um mês ganharam nova actualidade. Nesse quadro, as respostas à pergunta (Onde iria buscar 200 milhões de euros que lhe faltassem?) podem ajudar-nos a definir quais pensamos serem as àreas onde estamos a gastar demasiado.
A questão ainda está aberta à sua resposta e até aqui os leitores que já lhe responderam são peremptórios: acham que há gordura na gestão pública e gastos superfluos na função de soberania para os quais deviamos olhar.
No debate com nova intensidade que se avizinha, eu alinharia pela via que os leitores do Banco têm escolhido maioritariamente. Se precisamos de pequenas respostas, façamos os cortes nos gastos correntes do Estado (que o PSD, aliás, até vem sugerindo na parte mais concreta do seu impreciso Plano B) e em funções de soberania que se revelem secundárias neste contexto. Se é preciso fazer doer a sério, adopte-se um cocktail com sacrifícios a várioss níveis, peça-se também solidariedade às autarquias, aumente-se, se necessário, o IVA ou mesmo reduza-se mais intensamente o investimento público. Apenas em caso de extrema necessidade, no contexto de uma forte ofensiva bem definida temporalmente ou confrontados com o agravamento sério da situação, deveriamos percorrer outros caminhos, socialmente muito mais perigosos e com muito maior risco de injustiça social.
Como alguns leitores saberão, no PEC, os 200 milhões que deram origem à questão foram colhidos nas políticas sociais, sob a forma de anúncio de cortes nas prestações sociais. Hoje, à saída da cimeira PS-PSD, o Primeiro-Ministro voltou a acentuar essa dimensão das suas preocupações, centrando no rigor do controle sobre os beneficiários de prestações sociais a sua resposta ao ataque especulador de ontem. Mas, ou esta é uma resposta meramente para acalmar as coisas e os opinion makers rendidos a estas retóricas de força com os fracos, enquanto se pensam medidas sérias ou, se é nela que se centra a nossa actuação próxima, não apenas terá inevitavelmente resultados escassos, como terá escolhido o alvo errado: os que menos responsabilidades tiveram na crise e que, por muito perversamente que usem as prestações, mais fragilizados estão hoje perante ela.
1 comentário:
Regista-se e aplaude-se que Governo e principal partido da oposição se entendam para defender o interesse nacional. O ataque a Portugal, à boleia do descalabro das contas públicas da Grécia, tem como objectivo ganhos especulativos. É uma manobra para fazer subir as taxas de juro, forçadas a descer para atenuar os feitos da crise. A descida das taxas de juro foi uma medida política contra os interesses financeiros especulativos que estão na base da crise. O actual ataque ao Euro e às economias dos países periféricos tem como objectivo repor os lucros dos interesses financeiros. É um efeito da crise e uma manobra para eleger quem paga a crise. A resposta, obviamente, tem que ser política em Portugal e, em toda a União Europeia.
É evidente que os interesses financeiros especulativos também estão instalados nos países da UE. E é na UE que actuam. E, certamente, os governos desses países podem ser influenciados por esses interesses financeiros.
A Alemanha, como país mais influente da economia da UE, costuma dizer-se que é o motor da economia da UE, tem especiais responsabilidades e deve liderar o combate político à crise e, obviamente, à deriva especulativa em curso. Não deve ser insensível ao estado deprimido das economias periféricas do espaço europeu, como parece estar a acontecer, e deve agir para minimizar os efeitos da crise nos países mais atingidos.
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