16.4.10

Florival Lança: a coragem de tornar pública uma derrota política

Florival Lança foi, como contou em entrevista ao Expresso da semana passada, afastado da CGTP por delito de opinião e, acrescento eu, sob a forma clássica das piores tácticas do estalinismo, transformando uma divergência numa penalização moral.
Quem decidiu a dança das cadeiras no último congresso da CGTP (quem terá sido?), limitou-se a criar uma regra de reforma compulsiva dos dirigentes aos 60 anos, transformando o afastamento político numa palatável e neutra decisão com base em critérios administrativos e transformando qualquer reivindicação de que o dirigente afastado se mantivesse, não numa questão política mas num mesquinho "agarrar-se ao lugar".
Não vale a pena dizer que Florival lança não merecia isto. Com toda a fraternidade lhe teria que dizer que recebeu também, na sua vez, o tratamento que o seu partido dedica a quem tem a coragem de ter ideias próprias e as defender.
A razão da discórdia entre o PCP e Florival Lança foi a filiação internacional da CGTP.
Os partidos comunistas da velha guarda, PCP incluido, terão decidido apostar na FSM, a desacreditada estrutura internacional dos sindicatos comunistas que reuniu o seu último congresso, em 2005, em Cuba.
As grandes centrais sindicais dos países democráticos, mesmo as saídas da tradição comunista, como as Comissiones Obreras espanholas, mandaram essa recomendação às urtigas e, de algum modo, a adesão ou não à Confederação Sindical Internacional era, para as centrais de inspiração comunistas, o teste à sua autonomia em relação aos partidos. Como é sabido, a CGTP falhou esse teste.
Florival lança conta agora em livro a sua versão do combate que perdeu, enquanto militante comunista, pela autonomia sindical da sua central em relação ao seu partido.
O livro já foi lançado no Porto e é hoje lançado em Lisboa, às 18h30, no Centro de Informação Urbana de Lisboal de Lisboa, no Centro Comercial Picoas Plaza. A coragem do autor e o interesse da história desta derrota dos comunistas que acreditam na autonomia sindical merece a presença dos que, partindo do mesmo ou de outros quadrantes ideológicos, apostam num sindicalismo independente, capaz de separar as àguas entre a acção político-partidária e a acção sindical. Eu só não estarei porque estarei a viajar para Lisboa à mesma hora, mas daqui mando um abraço ao autor e por seu intermédio aos derrotados da CGTP na batalha da CSI, na esperança de que seja uma derrota temporária.
PS. O livro será igualmente apresentado a 28 de Abril, em Bruxelas, na Livraria Orfeu, também às 18h30.

2 comentários:

o castendo disse...

A realidade é diferente da imaginação:
A posição do PCP é pública. Está escrita em várias Resoluções Políticas de vários Congressos e em várias resoluções do Comité Central.
Resumindo essas razões, elas traduzem-se na defesa clara e inequívoca de que a posição que, na opinião dos comunistas portugueses, melhor defende a unidade no seio da CGTP-IN é a adesão a ... NENHUMA central sindical. Nem FSM, nem CIS, nem...
Esta é a realidade desde há 35 anos. O resto são inventonas.
Neste caso, como em muitos outros, o PCP tem uma posição diferente de outros PC's...
Só um cego não o quer ver...

o castendo disse...

Já agora, dois meses depois, aqui fica a confirmação do que escrevi:
http://www.avante.pt/pt/1908/temas/109329/.
De qualquer forma aconselho a leitura em papel, porque as imagens e as fotos utilizadas também falam.
António Vilarigues