Parece claro que o acordo que se atingiu na Europa para consolidar o Euro exige a Portugal e a Espanha uma receita amarga que, no que nos diz respeito, vai tornar ainda mais difícil evitar que a crise económica ganhe contornos sociais preocupantes.
Percebe-se que a aceleração da contenção do défice não é uma aposta estratégica do governo português, mas um passo dado, porventura a contragosto, no quadro de um acordo europeu que nos devolve a estabilidade que o ataque especulativo ameaçava tirar-nos de forma drástica e duradoura.
Ninguém disse que havia solidariedade grátis na Europa, mesmo se o instrumento criado este fim-de-semana se revele, como julgo, histórico. E ninguém terá dado a devida importância a que Portugal e Espanha são ilhas de socialismo democrático numa Europa governada maioritariamente pela direita. Acredito que com maioria de governos à esquerda, os europeus geririam de outro modo mais eficiente e socialmente mais responsável a crise, mas os europeus têm escolhido outros caminhos.
A terapia reforçada para a redução do défice que vamos ser forçados a adoptar desequilibra o cocktail terapeutico de combate conjunto à febre do défice e à anemia do crescimento económico de que a sociedade portuguesa necessitava para passar esta turbulência sem crise social severa.
Já achava que o PEC não escolhia bem os alvos para um ritmo de contenção do défice também ele algo acelerado para o estado da economia a convalescer da recessão. Mas o passo de corrida que agora se impôs ao tratamento desta questão aumenta o risco de regresso à recessão, de desemprego elevado prolongado e, se dispositivos de protecção social não forem corrigidos, de protecção social insuficiente. Não é a primeira vez na história que medidas deste género fazem voltar crises e as recuperações fugazes da Bolsa antes do regresso da crise também não são inéditas.
Bem sei que não foi José Sócrates que escolheu este caminho, que ele é ainda assim bem mais suave que aquele que Ferreira Leite dizia querer impôr por sua escolha aos portugueses e que há uma diferença abissal entre ter esta via a ser gerida por quem tem convicções à esquerda ou por quem gostaria de a ter como pretexto para outras ofensivas ideológicas. Mas nada disso me deixa optimista quanto aos próximos anos.
Preparemo-nos, pois, para a terceira vaga da crise, a da crise social. E, se Vital Moreira tem razão quando diz que quando se tem que ir mais rápido, a viagem fica mais cara, sobram os problemas de que viagens a alta velocidade exigem muitissimo mais perícia dos condutores para que não haja despiste e de que quem viaja sem cinto de segurança se aleija muito mais nos acidentes do que quem parte devidamente apetrechado e seguro. Por isso, os próximos anúncios sobre como se concretiza esta aceleração são muito importantes.
Como socialista, espero que o governo não se engane no modo como vai passar esta meta acelerada para as políticas concretas.
3 comentários:
"E ninguém terá dado a devida importância a que Portugal e Espanha são ilhas de socialismo democrático numa Europa governada maioritariamente pela direita".
E não só Espanha e Portugal. Também a Grécia. Na Grécia acresce o facto de o descontrolo das finanças públicas ter sido efectuado pelo governo de direita que precedeu o actual.
O desenrolar da crise é curioso em avanços e recuos. Numa primeira fase, parece haver um acordo na UE no sentido de se recorrer ao investimento público para combater a crise. Quando surge o caso Grécia, rapidamente se começa a procurar outros alvos, como Portugal e Espanha, para justificar uma inversão do caminho antes alvo de consenso. Fica-se com a ideia que a Europa cedeu a pressões exteriores à Europa e contrárias ao interesse da Europa como um todo. As agências de rating foram o meio escolhido para veicular os argumentos que justificaram o arrepiar caminho. A Grécia foi o pretexto, cujo anterior governo de direita foi providencial para interesses que parecem escusos, mas que são contrários ao emprego e à resolução rápida da crise.
Eu gostaria que o Sr.Pedroso se dedicasse mas a fazer oposição e dedicasse mas tempo à [CMA] para a que foi eleito. Me pareceria o correto.
Luís
A Senhora foi criada e viveu em território sob influência da ex-URSS. Não sei se não gosta da Península Ibérica. Talvez não goste de terem escolhido governos socialistas! Mas quem aproveita são países como a República Checa (exporta 36% para a Alemanha, Basílio Horta dixit) o que ocasiona as fanfarronadas pouco diplomáticas do seu presidente, Vaclav Klaus.
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