Medina Carreira, o ex-Ministro das Finanças, ataca assim a necessidade de investimento público (as famosas "grandes obras") nesta fase: "Imagine que anda de mota, é casado e tem uma dívida de 100 ao banco. Para chegar ao Porto mais depressa e mais polido diz à sua mulher que vão endividar-se em 150 e comprar uma moto mais potente. O que lhe diz a sua mulher? Endoideceste!".
Recontemos o exemplo, não em estilo chefe-de-família marialva à conversa com a esposa, mas raciocinando como empresário previdente: Imagine que tem uma empresa de estafetas por mota, com sócios e tem uma dívida de 100 ao banco. Está a perder clientes porque a concorrência usa motas mais potentes. Para poder servir os clientes mais depressa e com melhor qualidade, como já faz a concorrência, diz aos sócios que vão endividar-se em 150 e comprar motos mais potentes. O que lhe dizem os sócios?
Vejo com frequência a crítica liberal do Estado recorrer a piadas domésticas. O problema das analogias domésticas para os raciocínios económicos começa, contudo, com uma questão que um liberal sério deveria valorizar: na maior parte dos exemplos domésticos postos em cima da mesa, não há investimento nem concorrência, apenas luxo próprio ou inveja do vizinho. Aquilo que na piada doméstica é apenas ostentação ou inveja em economia pode ser a condição de sobrevivência face aos concorrentes. Mas quem nunca tenha tido que correr o risco de perder face à concorrência confunde uma coisa e outra com facilidade.
3 comentários:
Estou cansado destes aceleras sem carta. Para além da transgressão ao Código da Estrada, estamos perante uma transgressão ao Código da Ética e da Inteligência. Um possidónio sobre rodas.
Bom comentário!! DE facto é nestes moldes que se coloca a questão!! Mormente se juntar-mos a este comentário que sendo Portugal um periférico mesmo com o TGV os nossos empresários continuam a ter condições de concorrência logisticamente inferiores aos concorrentes e mercados europeus!!!!!!
Muito bem assinalado que os princípios que governam a economia de um país não são os que governam a economia de uma família. E embora no caso a analogia da empresa resulte, também os princípios da gestão empresarial nem sempre são aplicáveis. Medina Carreira devia ler Paul Krugman sobre o assunto. Aliás, Medina Carreira devia ler.
FRA
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