26.5.09

Em que unidade se mede um hospital? A propósito do Hospital do Seixal

Há quem confunda a melhoria das respostas às populações com a construção de edifícios e grandes obras. Tento que não seja o meu caso, mas vejo os exemplos multiplicarem-se à minha volta. Esta tarde, na Comissão de Saúde, discutiu-se um projecto de resolução do PCP que queria recomendar ao governo "que o novo Hospital do Seixal seja dotado de camas de internamento e de um serviço de atendimento para situações de urgência que corresponda a uma adequada assistência hospitalar, que satisfaça as necessidades das populações." À vista desarmada parece fácil concordar com a frase. Mas ela diz muito sobre o que a política pode ter de equívoco. Senão vejamos: 1. O PCP, pedindo "camas de internamento", explora a angústias das pessoas e a identificação que fazem entre tratamento de qualidade e número de camas. Mas há situações clínicas cada vez mais complexas e haverá ainda mais no futuro que se resolvem com cirurgia de ambulatório e os chamados "centros de alta resolução" responderão a cada vez mais segmentos das necessidades de saúde. Se um hospital sem camas pode contrariar o senso comum, não é menos verdade que pode, em articulação com um hospital de referência (no caso o Garcia de Orta), permitir cuidados diferenciados e de alta qualidade, sem duplicações nem sobreposições e utilizando racionalmente os recursos. Ou seja, o hospital previsto para o Seixal, desdobrará o Garcia de Orta e terá cirurgia em ambulatório, telemedicina, meios complementares de diagnóstico e terapêutica modernos e consultas externas diferenciadas. Funcionará em rede com o Garcia de Orta e os Centros de Saúde e terá, ainda, camas de retaguarda para doentes em convalescença. Assim sendo, qual é a questão? As camas do Garcia de Orta serão libertadas de ocupação que hoje têm, dada a expansão dos cuidados em ambulatório e mais cuidados de saúde serão prestados mais próximos dos cidadãos, sem que se construa tanto betão nem subam tanto os custos de funcionamento. É certo que não haverá camas de internamento no Seixal, mas não é menos necessário recordar que o objectivo que pretendemos não é ter camas ao pé da porta, mas cuidados de saúde de qualidade próximos e eficientes no quadro do uso racional dos recursos. 2. Lendo a proposta do PCP fica-se com a ideia de que o que se antecipa é um hospital sem qualquer atendimento de urgência. Mas não é verdade. O que neste momento está previsto é que tal hospital seja dotado de um serviço de urgência básica. Ora, essa urgência é precisamente o que está congestionado nas àreas que o novo hospital vai servir e, na minha opinião, uma das razões que justificam a sua necessidade. O PCP argumentará que ainda não foi formalmente escrito que assim será. Mas há hoje o compromisso público que será assim. Mais, se porventura tal questão se voltasse a colocar, toda a minha posição teria que ser revista, porquanto penso que o descongestionamento das urgências é uma prioridade essencial da melhoria dos cuidados de saúde em Almada, no Seixal e em Sesimbra. Neste ponto, aliás, creio que os Presidentes de Câmara de Almada, Seixal e Sesimbra devem estar unidos na exigência ao Governo de que se reequacione as carências decorrentes do fecho dos SAP e tome iniciativas para o período que medeia até à construção do novo hospital, que podem bem passar por abrir pelo menos uma nova unidade para garantir a adequada assistência das populações. Ou seja, acho o novo Hospital do Seixal, com o perfil que se anuncia, particularmente bem-vindo e um passo na melhoria dos serviços às populações metropolitanas do Sul do Tejo que deve ser apoiada e complementada com medidas imediatas. Não junto a minha voz aos que desvalorizam e atacam esta solução, antes vendo nela potencialidades elevadas para a melhoria da rede de cuidados e a colocação dos nossos concelhos no futuro, também na àrea dos cuidados de saúde. A mim, o que me preocupa é se o projecto continua a atrasar-se. Os hospitais devem medir-se em tipo de cuidados que prestam e adequação às necessidades e não em número de camas e toneladas de betão.

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