22.5.09
Um bairro cheio de equipamentos pode ser, ainda assim, um gueto?
Fernanda Câncio fala a frio do bairro da Bela Vista. Relembra que o bairro não é um gueto à antiga, está dotado de equipamentos sociais e se articula - embora o diga com demasiado optimismo - com o tecido urbano. Mas não vê aquele que me parece ser o nó fundamental do problema. Todas as concentrações de pobreza e exclusão geram vulnerabilidade a, usemos o eufemismo, modos de vida alternativos.
Mesmo a mais perfeita política de equipamentos continuaria a ser incapaz de superar essa dimensão do problema. Evidentemente, nem todos os bairros geram no seu seio lideranças marginais. A maioria deles resiste-lhes. Mas é isso mesmo, resiste-lhes. Muitas vezes, sózinha e duplamente vitimizada: por tais lideranças, quando dentro do bairro e pela indiferença ou desprezo, quando fora dele.
Há bairros que sucumbem a tais lideranças. Talvez a Bela Vista tenha chegado a essa situação. As minorias criminosas tomam-lhes conta da vida social, marcam a sua imagem, condicionam as polícias, juntam aos seus crimes um que não vem no Código Penal, de homicídio do espaço público.
Quando isso acontece, o que fazer? Em Portugal vigora uma visão que não conduz a longo prazo a nenhuma solução e que eu chamaria de uso da polícia como exército de ocupação. Dá segurança em situações agudas, mas usada permanentemente apenas eleva a estigmatização e a tensão social. Sem ingenuidades, é preciso partir a coluna vertebral ao crime organizado dentro dos bairros problemáticos. mas isso faz-se com informações, com infiltração policial, com policiamento preventivo, ganhando o bairro contra os "seus" criminosos. Não é fácil, mas é indispensável, quando o problema está produzido.
Mas não esqueçamos que o problema essencial é o de que as grandes concentrações de pobreza geram vulnerabilidade à captura das populações por dinâmicas problemáticas. Pelo que só se pode cortar o mal pela raíz, eliminando tais concentrações. O que podemos fazer combatendo a pobreza e a desigualdade mas temos que fazer também não a deixando concentrar-se no espaço. Essa concentração é a expressão quotidiana da guetização. Como? Disseminando a habitação social, o realojamento e a habitação a custos controlados pela cidade. Mantendo a diversidade social em todo o tecido urbano em vez de deixar o capitalismo inscrever-se na cidade sob a forma de apartheid social. Mas isso pressupõe uma política urbana não capturada pela especulação imobiliária.
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2 comentários:
Mata Caceres Socialista, e ex-presidente de camara de setubal durante anos, diz-lhe alguma coisa?
Porque será que na oposição se resolvem todos os problemas que quando são poder nada fazem???
Isto sem falar nos anos em que o PS esteve no poder e nada fez nem faz.
Mais outro que promete tudo e quando chega ao poleiro, diz que nao pode fazer nada etc.
Barak Obama tem sido um excelente exemplo disso nos states....
Este exerício de "anónimo" pode ser feito até à nausea:
1/ Diz-lhe alguma coisa um tal senhor LObo?
2/Diz-lhe alguma coisa um senhor Carlos Sousa e Aranha Figueiredo?
3/Diz-lhe alguma coisa Jacinta Ricardo?
4/Diz-lhe alguma coisa Pedro Canário?
5/Diz-lhe alguma coisa Miguel Boieiro?
6/Diz-lhe alguma coisa Eufrázio Filipe?
Por aqui não vamos lá, car anónimo.
O modelo de realojamento, o modelo dos bairros sociais foi "comprado" por todos os partidos e por todos os presidentes de Câmara, tanto da margem sul, como da margem do norte do Tejo.
Agora, o que é preciso dizer, e Paulo Pedroso di-lo (fazer já é outra coisa, pois precisa de ganhar a Cãmara de Almada para o poder realizar)com clareza: "é preciso outro modelo".
Ponto final.
JA
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