15.5.09

PCP, campanha eleitoral e Cristo-Rei

Como deve o poder político em campanha tratar os fenómenos religiosos? Julgo que deve manter uma distância respeitosa e recato, valorizando e apoiando, sem tentar colar-se-lhes ou deixar que eles se colem à política. O PCP, à frente da Câmara de Almada, seguiu por outro caminho, o da tentativa de instrumentalização. Este fim de semana, como diz Francisco Clamote, até o Cristo-Rei foi convocado para a campanha eleitoral. Separação entre Igreja e Estado? Para o PCP de Almada, trinta e cinco anos depois do fim do Portugal fascista de fado, futebol e Fátima, continua a valer tudo. Esta oportunista colagem de fachada é ainda mais chocante por ir de par com o desmazelo nos deveres do Município para com um santuário que é um recurso valioso do concelho. A Câmara tem o dever de proporcionar ao santuário uma melhor envolvente urbanística, de modo a valorizá-lo como recurso e a bem receber os crentes que o procuram. Tem o dever de criar as condições para que os crentes possam aceder-lhe facimente e fruir dele confortavelmente e em segurança. Tem o dever de valorizar também o recurso turístico que ele constitui, num momento em que o turismo religioso cresce de expressão. Contudo, como os peregrinos deste fim de semana compreenderão, nada disso foi assegurado. O envolvimento municipal no Cristo-Rei é uma fotografia difundida para que a associação subliminar entre religião e política se forme nos espíritos. Que limites deve ter o poder, quando em campanha eleitoral, para recorrer aos meios públicos que gere para benefício da força política que comanda os destinos, seja de um Governo ou de uma autarquia? Estou convencido que a lei deveria ser mais restritiva, nomeadamente no último semestre antes de uma eleição, no qual já vigoram regimes especiais de campanha eleitoral. Mas também sei que o limite mais eficaz a essa tentação estará sempre na exigência cívica que os democratas impõem a si mesmos. Quando esse limite se relaxa, assistimos aos inauguracionismos mais despudorados, de que os fontanários de Alberto João são paradigmáticos e às tentativas de colagem oportunista a eventos de significado público. Em Almada já temos exemplos mais do que suficientes de que a maioria velha de trinta e cinco anos usará todos os expedientes nesse domínio. O boletim municipal Kim-Il-Sungeano já não é notícia. Recentemente inaugurou-se uma primeira pedra de um parque de estacionamento que deveria estar concluido há anos mas só chegará depois das eleições. Creio, contudo, que estes gestos de pequeno oportunismo subvalorizam os cidadãos de Almada e as raízes profundas das suas exigentes convicções democráticas.

4 comentários:

jose albergaria disse...

Caro Paulo,
A minha experiência nas autarquias recomendam-me, em processos pré-eleitorais, o dever de alguma contenção ideológica.
O uso ou mau uso dos dinheiros públicos, nas "inaugurações" ou colagens a eventos alheios(...)não é monopólio de ninguém. Deste pecado já todos "bebemos".
Peço-lhe desculpa, mas a minha experiência autáqrquica recomendam que NÃO se deve desviar o debate, nem suscitar animosidades menores.
Devemo-nos concentrar NAQUILO que queremos FAZER e VAMOS FAZER se formos eleitos.
O caso do aniversário do Cristo Rei, é um bom pretexto para você avançar com propostas CONCRETAS de requalificação, em protocolo a celebrar com os responsàveis do Seminário do Cristo Rei (creio que são os gestores do mesmo...), para potenciar o TURISMO religioso em Almada.
A requalificação da frente ribeirinha, a que está virada para o Terreiro do Paço;o projecto urnbanístico para a Margueira;a requalificação do casco velho de Cacilhas; a marca (que eu considero fortissima) Fernão Mendes Pinto, que passou os seus últimos dias da sua vida, na Quinta do Pragal ( a explorar)como ruptura epistemólogica com a ideologia cultural soviética dos comunistas (da cultura para o povo);um protocolo com o Polo Tecnológico da UN, com as várias e importantes empresas que aí se concentram (a Y DREAMS...é só um exemplo de sucesso mundial).
Evite o diálogo com o passado em termos públicos (faça-o com o seu staff; no interior da estrutura partidária).
Deve, em meu modesto entendimento, ter uma postura próactiva, positiva.
Faça propostas, promessas que permitam visualizar o que poderá ser Almada, com Paulo Pedroso Presidente.
Muito do que aqui deixo dito, já você equacionou e está, certamente, a trabalhar nisso.
A cultura almadense está feita muito em torno dos icones anti-fascistas (Romeu Correia).
Ponha a marca Fernão Mendes Pinto na ordem do dia. Um Museu dedicado ao grande "almadense". Um prémio literário com o seu nome;colóquios internacionais sobre a expansão maritima, alavancados pela figura de FMP e pela sua obra, anverso de Os Lusíadas, A Peregrinação.
A prosa já vai longa.
Abraço,
JA

Anónimo disse...

Já conhecem o blog
http://www.coiso.net/ ?
Vale a pena...

Miguel Ribeiro disse...

Não habito no concelho de Almada, mas tinha a ideia de um certo abandono do monumento a Cristo-Rei, por isso lamento a tentativa de colagem.
Contudo, discordo da referência ao final do país do fado, futebol e Fátima, por duas razões:
1) Estes 3F, na realidade não terminaram (parece-me evidente), demonstrando que não dependiam do poder político, mas das pessoas que compõem o país e que os políticos como o senhor têm missão de servir
2) Precisamente há 50 anos atrás, quando foi inaugurado este monumento, eram muitos os católicos a contestar o regime, bispos, padres e diversos leigos. O célebre pró-memória de D.António Ferreira Gomes a Salazar é disso um exemplo, mas não é único, nem deu o sinal de partida.
Espero que, se ganhar as eleições na Câmara de Almada, o senhor saiba sempre respeitar todos seus cidadãos, proporcionando a cada um a vivência da sua fé, tal como é obrigação dos políticos. Espero também que seja coerente com as críticas que tece à atenção camarária para com o santuário a Cristo Rei.

Luis Nunes disse...

Como Católico, não deixo de ficar chocado pela forma como trata os catolicos de Almada, uma coisa do passado, de cariz salazarista.
Depois de ver os milhares de pessoas que sairam à rua, esperava-se de si mais humildade e contenção. Pelo menos ficamos a saber o que os socialistas pensam dos católicos.
Não se esqueça que o Santuário não propriedade camarária nem os seus terrenos envolventes para fazerem o que bem entendem. A pressão imobiliária na zona tem sido imensa, e a camara tem preservado o espaço até haver um plano promenor.
Esquece-se o senhor Paulo Pedroso que o apoio camarário ao Evento, foi semelhante ao dado por António Costa de Lisboa que deu 50.000 para a celebração. Esquece-se que a Camara de Almada, paulatinamente ao longo dos mandatos tem ajudado as comunidades catolicas a construir igrejas - distrubuindo e bem os fundos que as mesmas pessoas pagam em impostos camarários.
A Camara apenas pode ter pecado por ter mostrado o que fêz. Mas é bem pior não ter nada para mostrar, porque não fez nada.
Depreendo que a sua postura caso seja eleito presidente seja tratar de forma igual aquilo que não é igual. Não tem o mesmo peso em Almada as comunidades catolicas e as protestantes ou Testemunhas de Jeová com todo o merito que possam ter as mesmas. Trata-se de forma igual os iguais, os desiguais de forma desigual.
Espero que entenda isto